Por Daniel Sakamoto
Gerente-Executivo da CNDL
Após a realização da 113ª edição da NRF – maior evento do varejo mundial – que ocorreu em Nova Iorque entre os dias 14 e 16 de janeiro, o momento é de análise dos principais assuntos apresentados nas 170 palestras e nas soluções tecnológicas expostas na feira, que teve mais de 1.000 expositores.
Os 40.000 participantes do evento tiveram a oportunidade de ouvir relevantes reflexões sobre o momento do varejo atual, não apenas do ponto de vista norte-americano, mas também com valiosas contribuições de experiências asiáticas, europeias e até mesmo sul-americanas.
De maneira geral, percebe-se que a nossa abordagem apresentada no ano passado, onde traduzimos o comportamento do consumidor pós-pandemia e desenhamos uma nova matriz de relacionamento e consumo – o Omnivarejo –, se consolida a partir do que foi apresentado na NRF 2024.
Nada mais atual que a constatação da existência de um “novo” consumidor que busca valores como inovação, diversidade, inclusão, sustentabilidade, transparência e propósito. A importância dos vínculos pessoais, sociais e emocionais, assim como o desejo do consumidor por conexões reais com as marcas, produtos e serviços que consome, ficaram evidentes e materializados em diversas palestras, como as de Dave Kimbell (CEO Ulta Beauty), Phillipe Schaus (CEO Moët Hennessy) e Michelle Grass (CEO Levi’s).
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Temas que mais repercutiram
Resumindo o que foi falado por aproximadamente 450 palestrantes, identificamos os temas que mais repercutiram entre os 2.500 empresários e especialistas brasileiros que estiveram presentes no evento:
1. Inteligência Artificial
Foi o principal tema do evento, tratado não como tendência, mas como realidade. Foram apresentadas soluções que efetivamente estão impactando a eficiência de operações de varejo, assim como os desafios da coleta e tratamento de dados para sua aplicabilidade. Destacamos aqui o pragmatismo como o tema foi tratado, com abordagem bem pé-no-chão, evidenciando que o momento não é para deslumbres ou aventuras nos investimentos tecnológicos.
2. Hiperpersonalização
Se um atendimento personalizado já foi considerado o padrão ideal a ser buscado, agora as expectativas aumentaram com o reforço da tecnologia, que se for bem utilizada é capaz de transcender os desejos e preferências do consumidor, chegando a prever o que ele ainda vai querer.
3. A reinvenção da loja física
Há anos se discute o papel das lojas físicas num mundo cada vez mais digital, desta vez parece que há consenso na sua importância (não se fala mais no fim da loja física), especialmente como canal de criação de conexão emocional com o consumidor, como local ideal para se oferecer experiências imersivas, sensoriais e emocionalmente envolventes, voltadas ao entretenimento e consumo.
4. Unified Commerce
O objetivo agora deve ser o oferecimento de uma verdadeira convergência entre o físico e o digital, ou seja, uma integração efetiva de toda a experiência de consumo (marketing, canais, logística, meios de pagamento, troca, etc), com muita segurança, conforto e fluidez.
As inúmeras palestras sobre os impactos da tecnologia no varejo deixaram claro que a revolução digital desempenha papel fundamental para colocar efetivamente o consumidor no centro das atenções. Tecnologia oferecendo eficiência operacional e experiências hiperpersonalizadas, como disseram Marc Benioff (CEO Salesforce) e Anshu Bhardwaj (VP e COO da Walmart Global Technology), dentre outros.
Apesar de não ser novidade, o tema ESG foi apresentado não mais como diferencial competitivo, mas como elemento prioritário no ambiente empresarial, assumindo protagonismo nas ações rumo ao desenvolvimento sustentável. Desta vez, mais do que apresentar ações relacionadas à sustentabilidade ambiental, social e governança, a discussão teve foco na mensuração dos impactos das ações ESG, como pudemos ouvir na palestra de Steven Williams (CEO PepsiCo). Não há dúvida, se o consumidor agora considera o tema relevante nas suas relações de consumo, os grandes varejistas o colocam como tema prioritário em suas estratégias. Simples assim, a sociedade e o planeta agradecem.
Desafios
Além da consolidação desses temas, que já estavam identificados em nossa matriz de relacionamento e consumo, a NRF 2024 trouxe dois elementos significativos que ampliam nossa visão sobre o varejo atual:
1. Desafios geracionais
Resultado de uma maior longevidade populacional e ampliação da autonomia de idosos e crianças como consumidores, nunca tivemos um ambiente de negócios tão diversificado e desafiador. E os mais jovens, chamados de GenZalpha – mistura da geração Z com a Alpha – por Kristin Patrick (VP Claire’s), estão recebendo cada vez mais atenção das marcas por sua avidez e características próprias de consumo.
2. Retail Media
A publicidade dentro das lojas foi um tema recorrente no evento, trazendo excelentes insights sobre a monetização de espaços e a colaboração entre as marcas e os varejistas. Tivemos uma aula sobre o assunto na apresentação de Marissa Jarret (CMO 7-Eleven), que deixou bem claro o enorme potencial financeiro a ser explorado.
E nesse desafio de identificar os temas mais relevantes de um evento tão grandioso e com tanta discussão, buscando sintetizar as principais percepções, ficou evidente que na verdade tudo gira em torno de um elemento: o ser humano. As pessoas foram o âmago de tudo que foi apresentado, seja com o óbvio papel de consumidor que está no centro das atenções, seja como líder, empreendedor ou colaborador do ecossistema que forma o varejo global.
Além das apresentações focadas em tecnologia, estratégias e tendências de mercado, o principal evento do varejo mundial reservou espaço de destaque para apresentações como as dos astros Magic Johnson (ex-jogador de basquete e empresário) e Drew Barrymore (atriz e empresária), que falaram da importância das relações pessoais no sucesso dos seus negócios, e de Edward Stack (CEO Dicks Sports), que salientou o papel fundamental dos colaboradores em qualquer operação comercial.
Enfim, em meio a tantos temas e discussões, a NRF 2024 reforçou que realmente estamos vivenciando um varejo onde todos podem vender e todos podem comprar (amplo mercado global), de todas as formas (multicanalidade) e em todo lugar (convergência do físico com o digital), buscando satisfazer todas as demandas e necessidades do consumidor moderno com soluções inovadoras, completas e integradas – o Omnivarejo.