Com o início das férias em julho, muitas empresas se preparam para reorganizar rotinas e redistribuir demandas. No entanto, para os profissionais de Recursos Humanos, o desafio vai além do planejamento operacional: garantir que os colaboradores realmente consigam desconectar do trabalho é uma medida essencial – e estratégica – para preservar a saúde mental.

De acordo com Vicente Beraldi Freitas, médico psiquiatra da Moema Medicina do Trabalho, o momento exige atenção redobrada das empresas. “Conceder as férias é o mínimo, mas garantir que o colaborador possa descansar de verdade, sem interferências do ambiente corporativo, é uma responsabilidade que precisa ser assumida por toda liderança. A saúde mental não é um detalhe – é um pilar para a sustentabilidade dos negócios”, afirma.

O alerta vem em um momento crítico. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que, em 2024, o Brasil registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais, o maior número dos últimos dez anos – um crescimento de 68% em relação a 2023. Ansiedade, depressão e síndrome de Burnout lideram as causas desses afastamentos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas doenças geram um prejuízo global de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade.

Para Beraldi, esses números refletem um cenário que mistura múltiplos fatores: “Vivemos a sobreposição de gerações no mercado, o impacto emocional da pandemia, a intensificação das metas e pressões nas empresas, além da aceleração digital. Tudo isso cria um ambiente onde o descanso real se tornou uma necessidade médica, não um luxo”, explica.

O especialista ainda observa que muitas vezes os colaboradores saem de férias, mas continuam conectados ao ambiente de trabalho por meio de e-mails, grupos corporativos ou pequenas tarefas que, somadas, impedem o cérebro de entrar em estado de descanso. “Responder e-mails ou ‘dar uma olhadinha’ no grupo da empresa pode parecer inofensivo, mas gera microestresses e perpetua o esgotamento. O retorno ao trabalho acaba sendo mais cansativo do que reparador”, pontua.

Cultura de respeito às pausas

A Moema Medicina do Trabalho reforça que promover uma cultura organizacional que valorize as pausas é um investimento direto em produtividade, bem-estar e engajamento. Pequenas ações de gestão podem fazer a diferença:

Para Tatiana Gonçalves, sócia da Moema, o perfil das doenças ocupacionais mudou. “Há 20 anos, os afastamentos estavam ligados a acidentes físicos ou problemas ortopédicos. Hoje, a maior parte tem origem psiquiátrica. A empresa que ignora esse cenário está negligenciando sua sustentabilidade humana e financeira”, analisa.

A crise de saúde mental atinge especialmente as mulheres, que representam 64% dos afastamentos registrados em 2024, frequentemente sobrecarregadas por múltiplas jornadas e pressões sociais.

Transtornos mais comuns e suas causas

Os transtornos mais prevalentes nas corporações incluem:

Essas condições são causadas por uma combinação de fatores pessoais, organizacionais e sociais. Pressão por metas, falta de reconhecimento, sobrecarga, isolamento e desalinhamento entre valores pessoais e os da empresa estão entre os principais gatilhos.

“A saúde mental precisa ser tratada com a mesma seriedade que outras áreas da medicina do trabalho. As empresas que priorizam o cuidado com seus colaboradores não só reduzem o risco de afastamentos como constroem ambientes mais saudáveis e produtivos”, finaliza Vicente Beraldi.

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