Abilio Diniz: 10 lições para o sucesso do mestre do Varejo

Menos de uma semana, o Varejo perdeu outra importante personalidade: Abilio Diniz, fundador do GPA (Grupo Pão de Açúcar) e um dos empresários mais importantes do Brasil, que morreu no último domingo (18/2), aos 87 anos. O empreendedor estava internado há alguns dias e foi vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite. O velório ocorreu segunda-feira (19/2) no Salão Nobre do MorumBis, estádio do São Paulo Futebol Clube, o time do coração do empresário. O local do enterro não foi revelado pelos familiares.

O empresário começou trabalhar aos 13 anos e seguiu na ativa até os seus últimos momentos de vida, deixando um grande legado para o empreendedorismo brasileiro. Diniz construiu um império no Varejo e se tornou um dos homens mais ricos do país: sua fortuna é estimada em US$ 2 bilhões (R$ 9,9 bilhões), segundo a lista de bilionários da Forbes. Atualmente, era um dos principais acionistas do grupo Carrefour Brasil, segundo maior grupo varejista do mundo, ocupando a vice-presidência do colegiado da varejista e respondia por quase 14% dos direitos de voto.

As estratégias utilizadas pelo empreendedor para transformar um pequeno negócio familiar em uma das maiores redes varejistas do país servem até hoje de inspiração para outros empresários brasileiros e fizeram do gestor uma referência no segmento. Compilamos aqui as principais lições deixadas por Abilio Diniz para o sucesso nos negócios:

Conheça o negócio por dentro e ponha a mão na massa
O empreender deu seus primeiros passos no mundo dos negócios na doceria familiar ‘Pão de Açúcar’, criada na década de 1950 por seu pai, o padeiro português Valentim dos Santos Diniz, que emigrou para o Brasil muito jovem. “Ele me incentivava a participar (do negócio). O que eu mais gostava era de ir com o motorista fazer entregas”, disse em entrevista à Forbes Abilio Dniz, que era o mais velho de 7 filhos e vivenciou todos os processos do negócio. “Uns sonham com o sucesso, nós acordamos cedo e trabalhamos duro para consegui-lo”, dizia.

“Quando você é jovem, tem que fazer tudo. Não dá para ficar: ‘só gosto de escritório’. Jovens que estudaram muito, em geral, não querem ralar em loja. E a vida está nas lojas, não na corporação”, falou em entrevista à Folha de S.Paulo em 2012.

Depois, a família expandiu os negócios, e abriu um bufê. Então, Abilio Diniz ia em igrejas e cartórios para descobrir os próximos noivos. “Eu telefonava ou ia de porta em porta oferecer os serviços do bufê”, lembra. Mas a grande virada só veio quando entraram para o ramo dos supermercados. “Começamos a ter uma vida melhor quando abrimos o primeiro supermercado, em 1959″, disse o empresário, que época, ia pessoalmente visitar os pontos a fim de avaliar se seriam um bom local para abrir um mercado. Durante décadas, esteve à frente do GPA.

Não fuja das brigas
O Pão de Açúcar abriu capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), atual B3, em 1995, captando cerca de US$ 110 milhões. Dois anos depois abriu capital na Bolsa de Nova York arrecadando mais de US$ 172 milhões. Os recursos permitiram ao grupo fazer novas aquisições, comprando as redes Mambo e Barateiro. Nos anos 1990 Diniz fechou um acordo com o grupo francês Casino, que pagou R$ 1,5 bilhão em 1999 por 22% do capital do Pão de Açúcar. Em 2005, os franceses injetaram mais R$ 2 bilhões no Pão de Açúcar, elevando a participação do Casino para 50% e garantindo a opção de assumir o controle do Pão de Açúcar, em 2012.

Durante muito tempo, Diniz tentou impedir o negócio e, em 2011, tentou costurar uma fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, arquirrival do Casino na França. O grupo Casino contestou a tentativa na Justiça. A paz só seria fechada em 2013, quando o Casino assumiu o controle do Pão de Açúcar. Diniz trocou suas ações ordinárias por preferenciais, sem direito a voto, e renunciou ao cargo de presidente do Conselho do Pão de Açúcar.

No ano seguinte, o empresário investiu pesadamente na BRF, empresa resultante da fusão da Sadia com a Perdigão, e comprou 10% das ações do Carrefour. Ainda hoje a família é o segundo maior acionista do varejista francês, perdendo apenas para a família fundadora.

Assuma os seus problemas e erros
“Para crescer, é essencial olhar para o espelho e não para a janela”, disse o empresário durante palestra na HSM Management 2015, feira de gestão empresarial. O empresário ensinou que um bom empreendedor deve pergunte-se sobre o que pode fazer e o que deixou de fazer para lidar com o problema. “Quando você culpa terceiros, você não pode agir sobre eles. O que está do lado de fora pode até ser importante, mas você não controla”, destacou.

E ensinou ainda em entrevista à Folha em 2011: “Costumo ensinar para meus alunos do curso de liderança na FGV que se tiverem que cometer erros, que sejam só erros novos. Os erros cometidos por outras pessoas não me dão o direito de cometer os meus”.

Estabeleça valores claros e não abraça mão deles
Na publicação “Novos Caminhos, Novas Escolhas”, livro de memórias e lições de vida que Diniz lançou em 2016, o empreendedor disse que tinha cinco diretrizes que definiam as suas ações: humildade; determinação e garra; disciplina; equilíbrio emocional; e honestidade e ética.

“Esses valores definem o meu caminho, a estrada por onde ando. Honestidade e ética significam respeito. É saber claramente o que é seu e o que não é. É saber onde está o direito dos outros e se conduzir pela lei não escrita dos homens, mas que precisa ser observada. Quando eu era mais jovem, entrei em dezenas de brigas. Nunca fui desleal, mas nunca deixei de lutar pelo que acreditava”, escreveu o fundador do GPA.

Que mal tem copiar as boas ideias?
Em entrevista à revista Exame em 2021, Abilio Diniz afirmou que nunca inventou nada, mas soube copiar boas ideias e aprimorá-las. “Na minha vida, eu sempre fui muito mais um copiador do que um inventor. É muito mais fácil. Vai fazer uma coisa nova? Quem está fazendo melhor isso no mundo hoje? Vai lá, olha, copia direitinho, e se for possível, melhora para você”.

“Estive em quase todas as redes (de supermercado) da Europa. Conheço profundamente o varejo nas principais regiões dos Estados Unidos. Fui ver até como operavam redes em países distantes como Rússia e China. É difícil falar um negócio desses, mas deve existir muito pouca gente no mundo que visitou tanta loja de supermercado quanto eu”, declarou na biografia “Abilio – Determinado, Ambicioso e Polêmico”, de Cristiane Correa.

“Minha característica é ser otimista. Eu sou otimista com o futuro do Brasil e sou orgulhoso do país em que nasci e pretendo continuar assim até o fim dos meus dias” (Foto: reprodução/LinkedIn)

Equilibre rigidez e empatia
O fundador do GPA acreditava que um líder bem-sucedido deve manter o equilíbrio entre a firmeza e a humildade, a fim de estabelecer uma conexão de confiança com a equipe. Para isso, o gestor deve estar aberto para ouvir as pessoas ao redor e as novas soluções, mesmo quando precisar impor seu ponto de vista.

“Sua abordagem de ser duro e exigente, mas ao mesmo tempo humano, destaca a importância de equilibrar a determinação com a empatia. A capacidade de compartilhar conhecimento, aprender com desafios e inspirar outros também são aspectos importantes do seu legado”, avaliou Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem, em conversa com o PEGN.

Evite reuniões
Para Abilio, simplificar processos é o segredo de uma gestão de alta performance, segundo disse em palestra na HSM Management em 2015. “As pessoas fazem reunião porque não sabem o que fazer ou para dividir a responsabilidade, se algo der errado. Quando você tem processos bem simplificados, o resultado é quase ausência de reuniões”, ensinou.

Não deixe de sonhar alto
Abilio se considerava um sonhador insatisfeito e recomendava que as pessoas sonhassem alto e buscassem a realização, sem deixar de comemorar os objetivos já atingidos. “Tenho sempre minhas ambições, mas tem algo que é muito importante: você não pode amar só o que ambiciona, tem que amar o que já tem. Se você vive só da ambição, não aproveita o que já conquistou”, declarou em 2015 na palestra realizada na HSM Management.

Mantenha uma visão otimista
Diniz mantinha uma visão positiva em relação ao país e acreditava que o papel do empresário não era o de lamentar as adversidades do cenário, mas de interpretá-las e de contribuir para o país. “Ele sempre olhava o copo ‘meio cheio’”, afirma Alberto Serrentino, especialista em Varejo e CEO da Varese Retail, para o PEGN (Pequenas Empresas Grandes Negócios).

“Minha característica é ser otimista. O otimista vive melhor, vive mais feliz”, reconheceu Abilio Diniz em conversa com o time da Exame, no ano passado. “Eu sou otimista com o Brasil. O Brasil é imenso, o brasileiro é um povo extraordinário. Eu sou otimista com o futuro do Brasil e sou orgulhoso do país em que nasci e pretendo continuar assim até o fim dos meus dias”, disse.

Busque o autoconhecimento
Em uma palestra TED Talk em 2018, Abilio contou que fazia análise para se entender e se aprimorar. “Envelhecer bem é uma escolha. Eu comecei a fazer 80 anos com 29. Eu, naquela altura, já era um cara bem-sucedido na vida, forte, saudável, mas não era feliz, era muito tenso. E um dia comecei a me sentir mal, e fui num médico. O cardiologista chegou para mim e disse: ‘Você não tem nada por enquanto, mas vai ter se cuidar da sua cabeça, se você não procurar ser menos tenso’. E, com isso, eu procurei um analista, procurei alguém que pudesse me ajudar, e comecei as minhas primeiras sessões de análise. Duas vezes por semana comecei a procurar entender quem é que era o Abilio. E isso foi muito importante para mim na minha vida”, relatou.




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