Segundo o relatório “Top M&A Trends 2025” da McKinsey, o mercado global de fusões e aquisições demonstrou sinais de recuperação em 2024, com um aumento de 12% no valor total das transações, alcançando US$3,4 trilhões. A pesquisa aponta que empresas com operações financeiramente organizadas e com estratégias claras de crescimento seguem sendo as preferidas pelos investidores. Dessa forma, em um momento em que o mercado exige cada vez mais transparência e preparo, negligenciar a saúde financeira do negócio pode pôr em risco a realização de um M&A.
Nessa negociação, a capacidade de demonstrar previsibilidade e governança financeira sólida são fatores decisivos. Para Daniel Lasse, CEO da Value Capital, boutique especializada em M&A, o segredo está em enxergar a operação com os olhos do comprador. “Quando uma empresa apresenta erros contábeis e controles frágeis, isso transmite improviso e desorganização, o que reduz o interesse e o valor percebido, comprometendo o valuation da companhia. Em fusões e aquisições, cada vírgula fora do lugar pode ser usada como argumento para renegociação ou para interromper o processo, por isso a preparação antes de uma due diligence é tão importante”, explica.
Para aqueles que estão interessados em realizar um M&A, o especialista recomenda primeiramente verificar como estão os controles contábeis, tributários, trabalhistas e jurídicos da empresa, trazendo uma visão financeira clara do negócio. A fim de auxiliar nessa preparação, Daniel elencou quais são os 4 erros mais comuns nos demonstrativos que podem influenciar na avaliação do comprador e impactar negativamente, com o intuito de serem evitados, uma vez que podem comprometer o sucesso da operação. Confira:
Falta de previsibilidade de caixa
Um dos pilares do valuation é a capacidade da empresa de gerar caixa de forma consistente no futuro. Quando a companhia apresenta projeções desconectadas da realidade, sem premissas claras ou com histórico fraco de acuracidade, o investidor perde confiança no crescimento prometido. “Essa imprevisibilidade impacta diretamente a atratividade do negócio, pois o investidor não está apenas comprando o que a empresa é hoje, mas o que ela pode se tornar. Projeções frágeis ou otimistas demais abrem margem para questionamentos e descontos agressivos na negociação”, reforça o especialista.
Endividamento mal estruturado
Ter dívidas não é um problema, de acordo com Lasse, desde que elas estejam bem organizadas e alinhadas com uma estratégia clara de crescimento. Ele explica que o que compromete o valuation é uma estrutura de capital desequilibrada, com alavancagem elevada, vencimentos mal planejados ou financiamentos desalinhados com o ciclo operacional da companhia. “O endividamento descontrolado cria incertezas e pode consumir grande parte do valor percebido do ativo, além de limitar a capacidade da empresa de se expandir de forma saudável após a transação”, esclarece.
Desorganização contábil e fiscal
Inconsistências nos demonstrativos, ausência de reconciliação adequada, práticas questionáveis e falta de alinhamento entre o contábil e o fiscal são elementos que acendem o alerta vermelho em qualquer processo de due diligence. Além de gerar ajustes negativos no valuation, essas falhas frequentemente resultam em retenções de valor em contas escrow e na perda de credibilidade junto ao comprador. “Já interrompemos negociações logo no início ao identificar riscos estruturais difíceis de ajustar. Um bom advisor sabe quando parar para não desperdiçar energia de todas as partes envolvidas. Para que isso não aconteça, é fundamental que a empresa invista na organização dos seus números desde muito antes de iniciar o processo”, compartilha o CEO.
Falta de controle sobre custos e margens
Margens operacionais despadronizadas, sem lógica setorial, indicam má gestão e fragilidade nos processos internos. Lasse explica que essa inconsistência impacta diretamente o EBITDA, apesar de não ser um conceito contábil, é um parâmetro frequentemente usado como referência para comparação do valuation, e levanta dúvidas sobre a sustentabilidade do negócio. “Quando os custos crescem de forma descontrolada ou não há clareza sobre o que está consumindo recursos, o investidor passa a enxergar risco operacional elevado. E risco, nesse contexto, se traduz em menor valor da companhia”.
Além desses pontos, fatores como a dependência excessiva de poucos clientes ou fornecedores e a ausência de governança financeira estruturada também contribuem para uma percepção negativa do negócio. Para evitar esses obstáculos, o especialista recomenda auditorias prévias, construção de forecasts realistas, governança ativa e organização interna desde os primeiros estágios. “Vestir a empresa para o deal não significa maquiar os números, mas sim construir uma história sólida, consistente e transparente que justifique o valor que se busca extrair”, finaliza Lasse.
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