Médias empresas têm baixa confiança no ambiente de negócios do país

As médias empresas brasileiras têm baixa confiança em relação ao sucesso de suas companhias nos dias atuais e no futuro próximo. A maioria dos médios empresários não confia no ambiente de negócios do país, devido à deterioração das percepções sobre a economia brasileira, às mudanças nos aspectos político e social, e ao aumento da pressão inflacionária sobre os custos operacionais. O atual cenário também desfavorece os níveis de investimento para o crescimento das empresas, sendo baixo o reinvestimento a partir do faturamento bruto das organizações.

Estas percepções foram reveladas pelo novo Índice de Confiança das Médias Empresas (ICME), elaborado pela Fundação Dom Cabral (FDC), tendo como base o primeiro semestre deste ano e as comparações com os semestres anteriores ao longo dos últimos três anos, além das expectativas dos empresários para os próximos seis meses. O ICME recuou 4,3 pontos no primeiro semestre de 2025 em relação ao segundo semestre de 2024, alcançando apenas 44,4 pontos. O valor indica falta de confiança do ambiente de negócios, por estar abaixo da referência de 50 pontos – numa escala de 1 a 100.

Pontuação cai desde o primeiro semestre de 2024

Segundo a pesquisa, essa foi a maior queda no indicador desde o início da coleta de dados pelo Centro de Inteligência em Médias Empresas da FDC, reforçando a tendência de redução na confiança desde o primeiro semestre de 2024. Essa redução foi impulsionada especialmente pela queda nas expectativas futuras, que recuou 5,1 pontos, enquanto a avaliação das condições atuais recuou 3,4 pontos. As quedas no Índice de Confiança foram mais significativas nas Regiões Norte, Nordeste e Sudeste.

A pesquisa mostra que houve redução no ICME em todos os setores, mas o de serviços registrou a menor queda, com pontuação de 47,5, o que significa um recuo de 3,3 pontos. No comércio, a queda no Índice de Confiança foi de 4 pontos – o índice ficou em 42,5. O maior tombo foi registrado na indústria, com índice final de 42,3, que significa um recuo de 5,3 pontos.

Impacto econômico e social

As médias empresas representam 0,89% do total de companhias no Brasil e são responsáveis por cerca de 18,62% dos postos de trabalho, conforme dados do Cadastro Central de Empresas do IBGE. Portanto, esse segmento tem um impacto significativo tanto econômico quanto social. Para a pesquisa, foram entrevistados representantes de 616 empresas de médio porte, sendo 241 do setor industrial, 80 empresas comerciais e 295 do setor de serviços. Os dados foram coletados entre 4 de fevereiro e 13 de março de 2025.

Pela metodologia do trabalho, há um recorte no ICME, que se desdobra em dois outros índices: o Índice de Condições Atuais (ICA) e o Índice de Expectativas Futuras (IEF). Juntos, todos os estudos dão um panorama mais detalhado de como pensa o médio empresário brasileiro. O ICA revela impactos negativos de turbulências econômicas, políticas e sociais e a percepção de pressões inflacionárias nos custos dos negócios. O IEF também mostra a preocupação dos médios empresários com o ambiente econômico, político e custos operacionais.

Cenário atual preocupa

O Índice de Condições Atuais (ICA) recuou 3,4 pontos no primeiro semestre de 2025, atingindo 42,3. Esse resultado indica uma piora na percepção dos empresários de médias empresas sobre o cenário atual. O ICA é composto pelos fatores Macroambiente, Microambiente, Dinâmica Setorial e Custos do Negócio, que detalham os desafios enfrentados pelas empresas em diferentes dimensões.

O quesito Macroambiente do ICA apresentou uma queda expressiva de 4,8 pontos, atingindo 26,2. Esse recuo foi impulsionado pela deterioração na percepção das condições da economia brasileira e pela avaliação das mudanças no ambiente político e social. Esses dados refletem um cenário de incertezas econômicas e instabilidade política, fatores que impactam diretamente a confiança dos empresários de médio porte. Já o Microambiente apresentou estabilidade, com variação positiva de 0,4 ponto, atingindo 48,7. A percepção das condições das empresas caiu, mas a avaliação da demanda de mercado subiu.

Aumento nos custos dos negócios

O fator mais crítico do ICA no primeiro semestre de 2025 foi a piora significativa na avaliação dos Custos do Negócio, cujo índice caiu 9,8 pontos, atingindo 43,6. Esse recuo foi impulsionado por uma avaliação dos aumentos nos custos dos insumos e de produção. Além disso, a percepção sobre outros custos e despesas do negócio também piorou. Esse movimento indica uma percepção crescente de elevação dos custos operacionais e os impactos da inflação nos preços dos insumos.

Já o Índice de Expectativas Futuras (IEF) sofreu um impacto maior na confiança do empresário e registrou queda superior à verificada pelo Índice de Condições Atuais (ICA). O IEF recuou 5,1 pontos, atingindo pontuação de 46,5. Segundo a pesquisa, esse declínio representa um aumento do pessimismo em relação às perspectivas para as médias empresas nos próximos meses.

Índice de expectativas futuras

No fator Macroambiente, o IEF sofreu uma forte queda de 7,8 pontos, chegando a 28,5. A maior deterioração ocorreu nas expectativas para a economia brasileira. O impacto das mudanças no ambiente político e social também foi visto de forma mais negativa. Esses resultados indicam que os empresários preveem um ambiente macroeconômico e institucional ainda mais desafiador nos próximos meses.

O IEF para o Microambiente registrou queda de 3,2 pontos, atingindo 51,4 pontos. A percepção sobre a própria empresa sofreu um recuo significativo de 8,3 pontos, atingindo 48,3, sinalizando preocupações com a gestão e a competitividade. Em contrapartida, a expectativa para a demanda da empresa mostrou um movimento positivo, crescendo 2 pontos e atingindo 54,6, o que sugere uma visão mais otimista sobre o mercado consumidor.

Investimentos caem

A parte da pesquisa dedicada às intenções de investimentos das empresas revelou um cenário de desaceleração, com uma média geral de apenas 3,92% do faturamento bruto anual sendo destinado a reinvestimentos nos negócios. Esse valor representa uma queda em comparação ao segundo semestre de 2024, quando a média foi de 4,6%.

O setor de serviços continua sendo o mais otimista, com tendência de crescimento no nível de investimentos. Para o primeiro semestre de 2025, as empresas de serviços projetam alocar 5,12% de seu faturamento bruto anual em investimentos, um leve aumento em relação aos 5,07% do semestre anterior. Em parte, pode-se atribuir esses investimentos à demanda crescente por inovação, digitalização e aprimoramento da competitividade no setor, de forma que as empresas de serviços miram a ampliação de operações e a melhoria da infraestrutura.

Indústrias não priorizam expansão

Por outro lado, o setor industrial experimentou uma queda considerável nos níveis de investimento. As empresas industriais preveem alocar apenas 3,87% de seu faturamento bruto anual em investimentos no primeiro semestre de 2025, o que representa uma redução em relação aos 4,40% registrados no segundo semestre de 2024. A retração reflete um cenário de maior cautela nas indústrias, que priorizam eficiência e redução de custos, em vez de expansão ou modernização.

O setor de comércio, por sua vez, apresenta uma das quedas mais acentuadas. A previsão de alocar 1,99% do faturamento bruto anual para reinvestimentos em 2025 é drasticamente inferior aos 3,98% registrados no segundo semestre de 2024, marcando uma reversão negativa nas intenções de investimento.

“O novo ICME revela que as médias empresas estão buscando aumentar o faturamento, mas com uma expansão mínima no número de funcionários, gerando uma dependência crescente de ganhos de produtividade. Esse padrão foi confirmado pelo estudo de produtividade das médias empresas da FDC, que destacou a busca por eficiência nos processos, transformação digital e a automação como principais motores de crescimento”, explica Áurea Ribeiro, professora da FDC e líder do ICME.

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