A combinação de inteligência artificial (IA) e ciência aberta pode acelerar a descoberta científica, redefinir os limites da pesquisa e democratizar o acesso ao conhecimento. Essa é a conclusão de um simpósio organizado pela Unesco e pela Royal Society do Reino Unido.
O encontro, realizado em junho último, também destacou um ponto importante da IA: o uso da tecnologia para desbloquear possibilidades a partir dos dados qualificados gerados por pesquisas científicas.
Na prática, os exemplos são quase infinitos, como é o caso do aprimoramento de diagnósticos médicos, projetos de novos materiais com propriedades únicas e mesmo a previsão de estruturas de proteínas.
Com a IA, os especialistas indicam que é possível mesclar, de forma otimizada, informações de diferentes regiões, idiomas e disciplinas. O recurso também teria a capacidade de permitir a transferência de tecnologia e surgimento de novas vias de pesquisa.
Futuro da pesquisa usando IA
Apesar dos ganhos no uso da IA na ciência aberta, o uso inadequado da tecnologia também tem sido considerado. Como o desenvolvimento da IA é dominado por empresas privadas, os cientistas podem ser incentivados a não seguir as práticas da ciência aberta, o que inclui, por exemplo, a publicação sobre o funcionamento de algoritmos e os dados de treinamento usados no processo de desenvolvimento.
Uma das alternativas propostas envolve a colaboração público-privada. No caso dos pesquisadores científicos, um dos principais ativos nessa colaboração é a propriedade de dados de alta qualidade, um fator fundamental na IA e que pode ser melhor capitalizado pelos praticantes da ciência aberta.
Mais importante ainda é não confiar cegamente na IA. A ideia é que os pesquisadores tornem-se co-designers e não meramente usuários passivos, segundo especialistas reunidos pela Unesco.
A relação entre pesquisa científica também foi abordada por outros pesquisadores em discussão consolidada na coletânea de artigos intitulada The future of research in na Artificial Intelligence-driven world (O futuro da pesquisa num mundo direcionado pela Inteligência Artificial, em tradução livre).
Segundo os autores, os desenvolvimentos atuais e futuros em sistemas de inteligência artificial têm a capacidade de revolucionar o processo de pesquisa, para melhor ou para pior.
No primeiro caso, os recursos de IA pode servir como colaboradores, pois ajudam a agilizar e conduzir as pesquisas. Por outro lado, tais sistemas também podem se tornar adversários, quando empobrecem a capacidade do aprendizado teórico. Outro grande problema é quando a IA atrapalha o processo de pesquisa, ao entregar informações imprecisas, tendenciosas ou falsas.
IA veio para ficar
“Não importa qual ângulo seja considerado, e quer gostemos ou não, os sistemas de IA vieram para ficar”, resume o documento.
Entre as discussões, os pesquisadores que participaram da coletânea citam formas híbridas de trabalho humano-IA, nas quais os sistemas de inteligência artificial podem ajudar a refinar informações obtidas em pesquisa tradicional. Outro uso possível é a contribuição da IA como assistente de pesquisa, desde que guiada por princípios de governança que envolvam a verificação dos dados.
Entre os posicionamentos menos otimistas estão aqueles que consideram que os sistemas de IA podem ser eficientes e capazes, mas não inspiradores, justamente por não terem uma identidade humana. Outra avaliação negativa do uso da IA em pesquisa científica é a de que a tecnologia prejudicaria o aprendizado, ao homogeneizar a teoria e distorcer a competição pelas melhores ideias em pesquisa.
O post IA na pesquisa científica pode ser acelerador, segundo Unesco apareceu primeiro em Varejo S.A.