Jovens trabalhadores entre 30 e 40 anos vêm dando um novo sentido à expressão “pé-de-meia”, originalmente criada para descrever as economias feitas para complementar a renda após a aposentadoria. Esse grupo está disposto a dedicar tempo e esforço para ganhar o máximo de dinheiro possível para se aposentar ainda jovem, a partir de recursos obtidos nos mercados de ações ou criptomoedas, negócios ou investimentos.
Essas pessoas tendem a trabalhar em grandes empresas de tecnologia, escritórios de advocacia, são fundadores de startups e podem ter ocupações que envolvem pacotes de remuneração generosos e opções de ações. O esforço para se aposentar cedo ganhou o nome de “FatFIRE” – “fat” (gordura), “Financial Independence” (Independência Financeira) e “Retire Early” (Aposentadoria Antecipada).
Oposto do “quiet quitting”
Segundo matéria publicada no site da Forbes, os “FatFIREs” são o oposto do chamado ‘quiet quitting’, no qual há falta de engajamento no trabalho visando a demissão, pois estão dispostos a trabalhar duro para alcançar seus objetivos ainda cedo. No ‘FatFIRE’, a ideia é focar incansavelmente em ganhar dinheiro rapidamente. O fim do jogo é se aposentar jovem e rico.
Os adeptos do “FatFIRE” evitam o conselho tradicional de gerenciamento de dinheiro de cortar custos e viver um estilo de vida mais simples para economizar. O mantra destas pessoas é “se aposentar com uma poupança gorda” e viver dos dividendos e pagamentos de seus investimentos e negócios paralelos. Muitos buscam um fluxo de caixa de cerca de US$ 100 mil por ano como referência para deixar o mundo do trabalho. Para poder gastar US$ 100 mil por ano na aposentadoria, é necessária uma carteira de cerca de US$ 2,5 milhões.
Histórico dos pais é motivação para o comportamento “FatFIRE”
A motivação de muitos dos adeptos do ‘FatFIRE’ é a trajetória vivida por seus pais, que trabalharam lealmente em empregos sem futuro, foram demitidos ou precisaram trabalhar até o final dos 60 anos. Quando pode se aposentar, essa geração mais velha não tinha muitos anos suficientes pela frente para aproveitar.
Mas, segundo especialistas, as metas ambiciosas destes jovens trabalhadores podem esbarrar em muitos obstáculos. O mercado de ações registra momento de altas e baixas. Por exemplo, a crise financeira de 2008 viu as ações despencarem e a economia afundar. Da mesma forma, imóveis e outros investimentos também envolvem riscos. Em resumo, o futuro é incerto com inflação descontrolada, altas taxas de juros, uma possível recessão no horizonte e turbulência geopolítica.
E se a pessoa viver até os 90 anos?
Outro aspecto a observar é que tomar como base para a aposentadoria US$ 2,5 milhões parece muito dinheiro, mas pode não ser, se a pessoa viver até os 90 anos. Além disso, aspectos como a má orientação no gerenciamento dos recursos no mercado de ações, uma emergência médica ou um divórcio contencioso podem diminuir o pé-de-meia.
Diante de dificuldades, talvez a pessoa precise voltar ao mercado de trabalho. Mas isso pode ser desafiador, já que o profissional esteve fora do mercado há anos, suas habilidades podem ter atrofiado e ele não acompanhou avanços. Gerentes de contratação podem desconfiar que o profissional seja um adepto do ‘FatFIRE’ e desistirá do posto assim que recuperar o dinheiro.
Para os que têm dúvidas sobre se tornar ou não um ‘FatFIRE’, um recado de um usuário do site Reditt funciona para deixar o jovem profissional de bem com a carreira e a vida: “coma bem. Exercite-se e desfrute do sexo. Durma bem. Ligue para seus pais. Isso é tudo que existe na vida. A ganância não tem fim. Repita depois de mim: o tempo é a moeda da vida. O dinheiro não é”, aconselha.
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